Inauguração
23 de maio
18h30
Núcleo de Santo André
'A ilha de Sam Nunca', de Andrea Santolaya
Chegar a uma ilha é entrar num lugar “exótico”, repleto de possibilidades, encantamentos e imprevistos. Permanecer implica “mergulhar” com outra profundidade.
Ao longo da sua permanência nos Açores, Andrea Santolaya tem vindo a revelar, com espanto e entrega, camadas mais profundas do território, apreendendo com curiosidade, respeito e ternura, a ilha, as ilhas.
'A ilha de Sam Nunca', de Andrea Santolaya, é uma exposição-instalação que reúne fotografias captadas entre 2017 e 2024. Trata-se de uma caminhada-périplo, em que, através da fotografia, a artista constrói uma narrativa sobre as ilhas açorianas. São imagens com uma enorme carga dramática e psicológica, que “falam” sobre a força dos elementos da natureza, a fragmentação do território, a beleza, a crueza, as interações humanas e comunitárias — os rituais, as crenças, o sagrado.
Estas fotografias expressam a sensibilidade etnográfica e a capacidade relacional da fotógrafa, o seu cuidado no uso da câmara, a forma como se aproxima e capta o lugar: a agitação dos elementos, a vida dos seus habitantes — pessoas, animais, plantas, rochas, mar. As suas imagens criam-nos relações de envolvimento, de emoção e de espanto perante este “mundo” tão particular, simultaneamente encantatório e cru.
A “Queda” de Andrea Santolaya neste arquipélago é telúrica, mágica, relacional, intemporal, estética e literária. Num lugar em que os elementos se impõem com muita força, beleza e crueza e as pessoas manifestam vivências e diálogos enraizados em tempos longínquos e iniciáticos, como as festas do Divino Espírito Santo e as romarias quaresmais. “Mas achei-me sem leme, à revelia da lua de rezar.”*
Esta exposição é também uma “viagem” onírica - uma imersão num microcosmos, que percorre a(s) ilha(s) em múltiplas dimensões e interações da memória coletiva a um tempo psicológico — estabelecendo-se diálogos entre as fotografias, os espaços, os objetos do Museu Carlos Machado e a poesia de António de Sousa, compilada por Natália Correia, A Ilha de Sam Nunca.* Tal como na vertiginosa “Queda” de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, surgem espaços inesperados e abrem-se portas — umas grandes, outras pequenas — que conduzem a lugares recônditos, mágicos e poéticos, gerando experiências múltiplas, por vezes desconcertantes e insólitas. É também um percurso reflexo da construção da identidade pessoal e coletiva, uma homenagem àquelas pessoas que, no século XV, aqui foram lançadas à sua sorte, com um mar imenso como fronteira, uma atmosfera carregada de tempestades, tremores de terra e vulcões — mas também um lugar de grande fertilidade, comunhão e beleza.
Andrea Santolaya devolve-nos, com ternura, essas múltiplas particularidades “das ilhas”, contribuindo para a construção de uma identidade mais ampla, com o seu olhar de fora — que já é de dentro e convida-nos a percorrer os seus encantos.
Maria Emanuel Albergaria, abril de 2025
Notas Biográficas
A fotógrafa, Andrea Santolaya (Madrid, 1982), fez o mestrado em Belas Artes na School of Visual Arts de Nova York. Ao longo da sua carreira tem desenvolvido uma linguagem visual muito própria, com um interesse particular em retratar pequenas comunidades onde a intemporalidade se revela como ponto de encontro. Do Ballet Mikhailovsky de São Petersburgo à etnia warao no Delta do Orinoco, passando pelo mundo do boxe em Nova Iorque, pelos Antigos Crentes russos no Alasca e pelos ritos e rituais de pequenas comunidades nos Açores, percorreu geografias tão distintas como Rússia, Venezuela, Estados Unidos e Portugal. A sua primeira exposição individual Around foi apresentada na Galería Marlborough, em Madrid, integrada no festival PhotoEspaña 2011. Ao longo dos anos, tem desenvolvido projetos fotográficos, expositivos, editoriais e formativos nos diversos territórios que percorre. Andrea Santolaya visitou pela primeira vez São Miguel em 2017, tendo sido convidada para uma residência artística no Pico do Refúgio, em Rabo de Peixe. É neste lugar que atualmente vive e trabalha.
Maria Emanuel Albergaria nasceu em Ponta Delgada em 1962. Estudou Artes Visuais, Antropologia Social e Ciências da Educação. Tem desenvolvido trabalho na área das artes, dos patrimónios, das culturas e da educação.
Ao longo da sua trajetória, foi professora do ensino básico, coordenou oficinas de artes no EP de Ponta Delgada, criou a instalação "Uma Casa na Floresta". Coordenou o Serviço Educativo do Museu Carlos Machado e a equipa do Património Cultural Imaterial, criou o projeto Museu Móvel. Trabalhou no Serviço Educativo do Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
Tem desenvolvido projetos relacionados com património imaterial e a arte comunitária, como "Caminhos do Chá", "Sete Cidades Para Além da Paisagem" e "Para que o Céu não nos Caia em Cima da Cabeça". Foi assessora técnica no Conselho Nacional de Educação e colaborou em publicações da editora Araucária. Em 2024, foi Cocuradora da exposição "Laudalino da Ponte Pacheco, o fotógrafo que estava lá". Realizou o vídeo "tudo está em tudo", integrado no Fuso Insular.
Desde 2019, integra a equipa do Plano Nacional das Artes.
Júlia Garcia (n. 1979) é licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2005). Fundou o atelier Alice's House (2007) juntamente com o artista plástico André Laranjinha, na ilha de São Miguel, Açores. De 2011 a 2021 Foi aprendiz de tipografia com o mestre Dinis Botelho na Tipografia Micaelense. Em 2019, com Manuel Diogo, fez a direção artística do “TIPO um Encontro de Impressores Tipográficos” em São Miguel, Açores. É co-fundadora da Associação Cultural Oficinas de São Miguel (2023). Ganhou os prémios de melhor cartaz do filme “Entre Ilhas” de Amaya Sumpsy: prémio Sophia, pela Academia Portuguesa de Cinema e o prémio Jean-Loup Passek de Melhor cartaz de Cinema no festival Mdoc (2023).
O Diário de Bordo Cultura Açores já se encontra disponível nos Núcleos de Santa Bárbara, Santo André e Arte Sacra do Museu Carlos Machado.
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