O Museu Carlos Machado possui três núcleos que albergam diferentes coleções e exposições.
Núcleo de Santo André
O núcleo de Santo André está instalado no antigo Convento de Santo André, um dos mais belos exemplares de arquitetura conventual de Ponta Delgada, tendo sofrido várias alterações ao longo dos séculos, até ser adaptado a Museu em 1930.
A história deste imóvel remonta ao século XVI, tendo sido fundado em 1567, por Diogo Vaz Carreiro e sua mulher Beatriz Rodrigues Camelo, e entregue definitivamente à ordem feminina de S. Francisco, em 1577. Foi o segundo convento de clarissas a ser erigido em Ponta Delgada, depois do de Nossa Senhora da Esperança.
Na visita a este imóvel pode valorizar-se o circuito conventual, de clausura, destacando-se a portaria antiga, os parlatórios, o coro alto, o coro baixo e a sua Igreja, cuja fachada apresenta a magnífica decoração em pedra vulcânica, ao gosto dos séculos XVIII e XIX, sobressaindo as janelas setecentistas. No seu interior, de nave única, as paredes laterais e o teto abobadado apresentam pinturas a fresco, executadas em 1820, sendo da mesma época os altares e o púlpito de talha dourada.
Além do circuito de Memória do Convento, neste núcleo encontra-se o circuito de História Natural.
Núcleo de Arte Sacra
Este núcleo encontra-se instalado da antiga igreja do Colégio. No século XVI a Companhia de Jesus expandiu-se aos Açores, fundando as suas Residências e os seus Colégios em várias Ilhas deste Arquipélago, nomeadamente em São Miguel, na cidade de Ponta Delgada, a partir do ano de 1591.
A primitiva Igreja do Colégio dos Jesuítas de Ponta Delgada, de invocação a Todos-os-Santos, por ter sido lançada a primeira pedra em 1 de novembro de 1592, deu lugar a um monumento ímpar de criação barroca, com exuberantes elementos decorativos na sua fachada, de pedra vulcânica, na talha do retábulo do altar-mor e nos painéis de azulejos setecentistas. Com a expulsão dos Jesuítas, por ordem do Marquês de Pombal, em 1760, esta igreja salão, de nave única, que possuía um vasto e valioso espólio artístico, ficou destituída de grande parte dos seus bens e alfaias religiosas, desaparecidos ou integrados noutros templos da Ilha, principalmente a partir de 1800, ano em que se interrompeu o culto.
Em 1834, a igreja foi adquirida ao Estado, por Nicolau Maria Raposo de Amaral, proprietário do Colégio dos Jesuítas, por herança paterna. Passados 139 anos, seus descendentes e herdeiros doaram a Igreja de Todos-os-Santos, com o respetivo espólio, à Câmara Municipal de Ponta Delgada, que deliberou ceder o espaço ao Governo Regional dos Açores, em 1977, para instalação do Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, tendo sido o projeto museológico aprovado em 2004.
Do acervo artístico, mantido na igreja desde o tempo dos Jesuítas, estão em exposição, na nave e sacristia, pinturas e esculturas dos séculos XVII e XVIII, com destaque para a Coroação da Virgem, de Vasco Pereira Lusitano (1535 - 1609), pintada em Sevilha no ano de 1604, e quadros que representam passos da vida de S. Francisco Xavier, atribuídos a Bento Coelho da Silveira (1620-1708).
Núcleo de Santa Bárbara (encerrado temporariamente)
Este núcleo resultou da adaptação de um antigo recolhimento que perdurou até aos nossos dias, de três existentes na cidade de Ponta Delgada. O Recolhimento de Santa Bárbara remonta ao início do séc. XVII, e foi mandado construir por Roque Teixeira Fonseca e sua esposa Maria Esteves, que também fizeram erguer a ermida sob a invocação de Santa Bárbara. A partir de 1662, as suas filhas passaram a viver nesta casa, como se fossem freiras recolhidas, de hábito branco e sob a Ordem Terceira de Santo Agostinho. A sua fama de honestidade e as suas virtudes depressa ultrapassaram a clausura, “espalhando-se pela cidade e atraindo aquela residência algumas dezenas de donzelas”(1). Após a morte da esposa, Roque Teixeira Fonseca foi ordenado sacerdote e constituiu como herdeira sua irmã, Maria de Santo António, que ficou como regente do Recolhimento e, em testamento de 1674, vinculou toda a propriedade para “aí viverem e se recolherem donzelas com sua regente.” (2)
A história desta instituição pode ser dividida em três períodos: da fundação até 1783, ano da morte da última professa da Ordem de Santo Agostinho e altura em que o Recolhimento passou para a jurisdição da Diocese; de 1783 a 1933, ano em que o Governo Civil de Ponta Delgada aprovou os novos Estatutos do Recolhimento, transformando-o em instituição de caridade; de 1933 a 1982, período em que o edifício foi desocupado, devido ao estado de degradação.(3)
Com a passagem deste imóvel para o Museu Carlos Machado, iniciou-se o processo de adaptação a novos desígnios. Atualmente, o antigo Recolhimento de Santa Bárbara, reabilitado pelo Governo dos Açores, assume funções museológicas, apresentando-se como um lugar de memória, habitado pela cultura.
(1) MONT’ALVERNE, Frei Agostinho, 1960. Crónicas da Província de S. João Evangelista das ilhas dos Açores, vol. II. Ponta Delgada, Instituto Cultural de Ponta Delgada.
(2) Arquivo do Recolhimento de Santa Bárbara, doc. s/nº, “Verba do testamento da Senhora Maria de Santo António dona que foi do Recolhimento de Santa Bárbara desta cidade de Ponta Delgada”, fl.1.
(3) MATOS, Artur Teodoro de, 1999. “Vivências, comportamentos e percursos das recolhidas de Santa Bárbara de Ponta Delgada nos séculos XVII a XX. Contributos para uma monografia”; In Actas do Colóquio Comemorativo dos 450 Anos da Cidade de Ponta Delgada. Universidade dos Açores, pp. 141-152.
O circuito de Arte Sacra centra-se na antiga Igreja do Colégio, onde a exuberante fachada, a resplandecência do retábulo do altar-mor, bem como, a coleção de azulejos setecentistas assumem-se como um todo, num monumento ímpar de criação barroca. A este integra-se uma galeria com uma coleção diversificada onde se destacam peças quinhentistas, bem como, um valioso espólio de exemplares de temática religiosa.
O circuito apresenta as características arquitetónicas dos edifícios conventuais de outros tempos, a diversidade de espaços, as suas dinâmicas e funções, bem como, explora o modo de vida das Clarissas pertencentes ao ramo feminino da Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis.
O Circuito História Natural apresenta uma coleção de base naturalista que foi o alicerce para a fundação do Museu. O circuito distribuído por oito salas expõe a diversidade, o exótico e o saber, onde são abordadas diferentes áreas do conhecimento científico, com destaque para zoologia, geologia, mineralogia, botânica.
A exposição presta homenagem ao Príncipe Albert I do Mónaco, dando ênfase à relação do Príncipe com os Açores, abordando memórias afetivas e o seu legado na construção do conhecimento científico do Atlântico.
A parceria entre o Museu Carlos Machado e o Geoparque Açores visa reforçar as relações estreitas entre o museu e o território em que está inserido, contribuindo para a sua divulgação, proteção, valorização e desenvolvimento sustentado.
Com o aumento do turismo nos Açores, o museu evidencia-se como um meio essencial na divulgação de conhecimento, estabelecendo um primeiro contacto entre os visitantes e o território açoriano, e promovendo um turismo responsável assente na preservação e conservação dos recursos naturais disponíveis.
Aproveite esta oportunidade e visite a mostra expositiva O Geoparque no Museu, patente no Núcleo de Santo André.