MÚSICA NO MUSEU | J.S. Bach - Transcrever o Passado para Ver o Futuro

10 março

16h00

Núcleo de Arte Sacra (Igreja do Colégio)

Programa

SONATA BWV 1035

I. Adagio ma non tanto

II. Allegro

III. Siciliano

IV. Allegro assai

 

SONATA BWV 1017

I. Siciliano. Largo

II. Allegro

III. Adagio

IV. Allegro

 

SONATA BWV 527

I. Andante

II. Adagio e dolce

III. Vivace

 

SONATA BWV 1033

I. Andante—Presto

II. Allegro

III. Adagio

IV. Menuetto 1 & 2

 

Notas ao Programa:

A arte da transcrição, ou do arranjo, sobrevoa a história da música. É impossível determinar a origem desta prática, pois, como bem refere Malcolm Boyd, “as razões da sua existência atravessam fronteiras estilísticas e históricas” («Arrangement», in Grove Music Online). Mas de onde procede esta pulsão que nos impele a dar nova vida às obras musicais? Ao percorrermos os caminhos da história, parece-nos que a transcrição é uma prática pulsional da ordem do desejo. Ora, este desejo pode aflorar sob a égide de uma lógica de mercado, sendo disto exemplo a criação de diferentes versões de uma mesma obra com o intuito de aumentar o lucro editorial; como pode ser um desejo eminentemente didáctico, erigindo-se aqui o arranjo em lugar de acesso a géneros, formas ou técnicas composicionais que queremos aprender; ou pode ser ainda o desejo de querer tocar uma obra que não foi concebida para o nosso instrumento, tendo assim como consequência o alargamento do repertório que lhe é próprio. São apenas três exemplos, mas suficientemente significativos para ilustrar o desejo caleidoscópico que permeia a prática da transcrição.

Estamos, pois, perante um fenómeno plural que é preciso compreender à luz das motivações que lhe dão origem. É este o desafio que nos propõe João Francisco Távora com o projecto artístico intitulado «Transcrever o Passado para Ver o Futuro», o qual tem como figura central um dos nomes mais relevantes da arte da transcrição: Johann Sebastian Bach (1685-1750). O compositor alemão destaca-se nesta nobre prática não apenas pela sua prolífica criação de transcrições – quer a partir da obra de outros compositores, como Georg Philipp Telemann (1681-1767) ou Antonio Vivaldi (1678-1741); quer a partir de obras próprias –, como também pelas numerosas transcrições que fizeram da sua obra, desde o séc. XVIII até à contemporaneidade. Estas duas faces da arte da transcrição de Bach são as que orientam este projecto – orientação, portanto, dupla, à imagem do deus Jano, onde passado e futuro coexistem.

Por um lado, o projecto «Transcrever o Passado para Ver o Futuro» visa estudar a prática da transcrição desenvolvida na época barroca, onde encontramos, pela primeira vez, um novo tipo de transcrição que não parte de modelos vocais, como era frequente até ao séc. XVI. Este novo tipo de arranjo tem como intuito a recomposição de música instrumental para outros instrumentos, prática essa que, para além de ser característica do período de vida de Bach (entre finais do séc. XVII e inícios do séc. XVIII), é desenvolvida pelo próprio compositor, sendo disto exemplo o seu Concerto para quatro cravos BWV 1065, que é uma transcrição do Concerto para quatro violinos em Si menor op. 3 no. 10, de Vivaldi. Mas por outro lado, este projecto também tenciona olhar para o futuro através da elaboração de novas transcrições, sendo aqui fundamental a residência artística desenvolvida na Casa-Museu Júlio Dinis, em Ovar, onde João Francisco Távora e Rafaela Salgado desenvolveram um trabalho laboratorial que lhes permitiu pôr em prática as técnicas composicionais aprendidas. Deste modo, o programa que aqui se apresenta é constituído por quatro sonatas de Bach, originalmente compostas para outros instrumentos, que foram adaptadas para o efectivo instrumental deste concerto (flauta de bisel e cravo). Relativamente às sonatas BWV 1035 e BWV 1033 – i.e. a primeira e última sonatas deste concerto –, estamos perante duas obras que foram concebidas inicialmente para traverso e baixo contínuo. Neste caso, a adaptação das peças seguiu um modelo directo, ou literal, pois o exercício de recomposição desenvolvido limitou-se à alteração da tonalidade original. Porém, este não foi o caso das outras duas sonatas que conformam este programa. Quer a sonata BWV 1017, originalmente composta para violino e cravo obbligato, quer a sonata BWV 527, concebida para órgão, revelaram-se verdadeiros desafios na sua transcrição, pois o âmbito limitado da flauta teve de ser aqui ultrapassado no processo de recomposição.

Qual será, então, o desejo oculto nas transcrições que irão ouvir? Ultrapassar os limites da flauta de bisel, alargar o repertório do instrumento, dar nova vida às obras de Bach… Eis aqui enunciadas algumas das razões que orientaram a configuração deste programa, mas outras razões prevalecem ocultas. Deixemos, pois, ressoar este desejo que atravessa todos os tempos para que ele seja revelado através da audição.

 

 

Ana Isabel Nistal Freijo

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