Núcleo de Santo André
Com as viagens oceânicas a partir do século XV, a influência oriental nas artes decorativas ocidentais ultrapassou muito a influência que existia na época das trocas comerciais desencadeadas pela rota das sedas.
A Europa, a partir do século XVI, era já conhecedora da tradição azulejar e das técnicas decorativas aperfeiçoadas do mundo islâmico. As práticas policromáticas da majólica, bem como o prestígio das porcelanas italianas e dos Países Baixos, contribuíram, de algum modo, para o atraso da vaga influenciadora orientalizante na decoração da cerâmica. No entanto, no século seguinte, é já claramente visível a influência do Oriente na produção da cerâmica europeia, tal como o interesse pela importação da porcelana da China, que rapidamente inundou os principais mercados europeus. A chinoiserie é bem visível, se bem que é no decorrer do século XVIII que a porcelana encomendada da China adquire no Ocidente o auge da procura e passa a ser fabricada em larga escala para os mercados europeus e, posteriormente, para os Estados Unidos da América. Embora seja este o período de maior procura pelos ocidentais, devemos ter em conta que, até meados do século XIX, houve um considerável volume de encomendas para o Brasil, através de Portugal.
Quase toda a totalidade da porcelana chinesa do séc. XIX é fabricada na região de Xangai, onde se admite terem existido várias centenas de fornos para a cozedura das porcelanas. Já Cantão, foi um entreposto comercial de grande importância para o comércio entre o Oriente e o Ocidente. Aqui, para além de se negociar a porcelana, procedia-se à sua decoração, muito embora Cantão nunca tenha sido reconhecido como centro produtor.
Em Cantão instalaram-se representantes das diferentes Companhias das Índias Orientais, embora algumas das Companhias tivessem os seus centros financeiros e armazéns em Macau.
Nesta pequena mostra expositiva, a porcelana da China ou tem configuração ou decoração europeia. São de formato europeu as travessas de aba larga, os pratos, as terrinas, chávenas, bules, tigelas, e muitas outras peças que fazem parte dos objetos usados à mesa pelos ocidentais. Para que as peças fossem o mais fiéis possível às ocidentais, tanto no formato como na decoração, era frequente o envio para a China de objetos e desenhos para servirem de modelo. Apesar do formato ser europeu, a ornamentação mantinha-se chinesa, com dragões, tartarugas, fénixes, símbolos de poder, de força e da sorte, sem esquecer as belas composições feitas com as peónias, crisântemos, as flores de ameixieira e de bambu.
Com o passar dos tempos as ornamentações vão se alterando, até serem integralmente feitas ao gosto do comprador europeu.
Apesar das muitas variações da decoração da porcelana da China durante o século XVIII, a mais comum é azul e branca, sobretudo a de Cantão e de Nanquim.
Nas primeiras décadas do século XVIII, a decoração policromada de aba larga é muito procurada, com destaque para a Família Rosa e Verde, onde o gosto europeu influenciou o fabrico da porcelana da China. Estas decorações são sobretudo chinesas, por isso, só nos interessam as peças que mostram o formato ou motivos europeus - brasões de armas, monogramas ou qualquer outro motivo decorativo. O vivo escuro realçado com dourado foi muito usado na decoração para os Jesuítas, especialmente na 2ª metade do século XVIII. As peças de uso à mesa primavam pela simplicidade na decoração podendo incluir somente uma faixa estreita, um brasão, um monograma, ou simplesmente uma flor.,
“Loiça de Encomenda” é a designação que se aplica a todas as peças de porcelana produzidas na China e no Japão destinadas apenas à exportação para a Europa e posteriormente Estados Unidos da América. A exportação era assegurada pelas companhias dos vários países, que intermediavam os contactos com o Oriente.
No século XIX, o estilo “China Azul “é amplamente reproduzido. O que carateriza este estilo são os tons azuis e brancos e o ser constituído por paisagem rústica, com templo, ribeiro, ponte, salgueiro ou chorão. O salgueiro ou chorão é uma das árvores mais populares na China e está carregada de simbolismo, associando-se à beleza e à graciosidade. Os ingleses começaram a reproduzir este padrão na segunda metade do século XVIII.
A popularidade da loiça azul e branca traduz esse gosto e a perenidade da herança da porcelana oriental. A mais notável imagem corresponde à decoração conhecida por Willow, de origem inglesa, que foi reproduzida por toda a Europa até ao século XX. O japonismo abre-se à Europa por volta de 1850 e a consagração desta tendência deu-se durante as Exposições Universais de 1867 e 1878, influenciando igualmente pintores da época, como Claude Monet (1840/1926), no seu quadro Madame Monet, onde esta é retratada com o tradicional kimono japonês, ou Vincent van Gogh (1853/1890) ou ainda no retrato de Abel Botelho, pintado por António Ramalho. Os impressionistas e pós-impressionistas manifestavam algum fascínio pela cultura japonesa.
Nas artes decorativas, o estilo Arte Nova mergulha nitidamente na influência japonesa, e só a partir de 1920, sensivelmente com o revivalismo de influência egípcia e com as propostas da Arte Deco, esta influência se vai dissipando, mas sem nunca terminar totalmente; o japonismo e a chinoiserie prosseguiram em muitas fábricas europeias.
AT
O Diário de Bordo Cultura Açores já se encontra disponível nos Núcleos de Santa Bárbara, Santo André e Arte Sacra do Museu Carlos Machado.
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