Centenário de Natália Correia (1923-2023)
Das Antíteses para o Absoluto é uma exposição de homenagem a Natália Correia (Fajã de Baixo, 1923-Lisboa, 1993), que o museu leva a cabo no âmbito das comemorações regionais do centésimo aniversário do nascimento e trigésimo da morte da extraordinária escritora açoriana Natália Correia.
Figura multifacetada e referência incontornável da literatura portuguesa do século vinte, Natália Correia deixou uma profusa obra multimoda, que inclui o conto infantil, prosa, ficção, romance, ensaio, crónica, teatro e antologias. Desde cedo colaborou intensamente com a imprensa periódica escrita na autoria de crónicas e artigos publicados em jornais como, por exemplo, A Luta, Jornal Novo, A Capital, Jornal de Letras, Diário de Notícias, entre outros. É sua a apresentação nos anos 80 de várias séries televisivas, entre elas, importa salientar “Neste Lugar Onde” e “Mátria”, a que se somou a autoria dos guiões dos filmes “Santo Antero” (1879) e “Soror Saudade” (1981), ambos realizados por Dórdio Guimarães.
No exercício da atividade política é de reter a sua participação desde os anos 40 em movimentos de oposição ao regime salazarista, sendo a sua obra poética e dramatúrgica marcada pela crítica à ditadura do Estado Novo. Na entrega que dedicou à causa pública, na defesa dos seus ideais e da cultura portuguesa, Natália Correia desempenhou intensa atividade política enquanto deputada na Assembleia da República, primeiro pelo PSD, entre 1979 e 1982, e posteriormente pelo PRD, de 1987 a 1991, e já no ocaso da vida liderou a fundação da Frente Nacional para a Defesa da Cultura.
Natália Correia ficará eternamente ligada ao Museu Carlos Machado, uma das instituições públicas nacionais que acolhe parte do seu legado, nomeadamente, o recheio da sua residência e as obras de arte provenientes da sua coleção tornada pública e a todos acessível na presente exposição.
As obras selecionadas para a presente exposição estão agrupadas em diferentes linhas temáticas que funcionam como linha de articulação com as obras que fazem parte da coleção da Natália Correia e em torno das quais trilhamos o périplo pela presente exposição.
Pose e Encenação é a designação dada ao conjunto de obras reunidas na sala disposta do lado direito da escadaria de acesso à galeria de exposição temporária no piso 1. Nesta sala, mostramos um conjunto de retratos de Natália Correia reunidos desde a década de 1940 até 1993, ano em que morre, abrangendo diferentes suportes e técnicas que dão conta da copiosa fortuna iconográfica produzida em torno da sua iconicidade, captando os traços distintivos do corpo, do rosto e da pose cenográfica protagonizada pela boquilha indissociável da sua imagem, algo suficiente para o reconhecimento inequívoco da sua figura.
Apresentamos, neste espaço expositivo, os retratos dos pintores que consagraram a sua beleza, entre eles, apontam-se os seguintes artistas: Júlio de Sousa, Martins Gomes, Pedro Ruas e Artur Bual. No domínio da escultura destacam-se os retratos escultóricos da autoria de António Duarte, Martins Correia e Isabel Meyrelles. Entre os artistas e poetas estrangeiros que retrataram a escritora açoriana, salientamos a obra de Marcel Marceaux, de traços imprecisos, e a gravura de Sendo, datada do ocaso da vida da escritora, onde a beleza de outrora cede lugar à velhice e ao avançar da idade.
Os Ascendentes é a denominação do segundo núcleo expositivo, no qual abordamos as personalidades do circulo familiar e contactos com notáveis da vida intelectual e politica portuguesa que exerceram influência, quer na descoberta da vocação poética e literária de Natália Correia, quer no seu lançamento na vida pública e política.
As obras que reunimos neste núcleo, relacionadas com alguns dos mestres são, fundamentalmente, retratos, entre os quais, podem ser vistos o autorretrato de Almada Negreiros, o retrato imaginário que Natália Correia realizou da progenitora Maria José Oliveira e o retrato do jornalista figueirense, escritor e amigo Manuel Cardoso Marta.
O núcleo O Círculo Surrealista reúne uma seleção de obras de artistas e poetas ligados ao Surrealismo português, compreendidas entre os anos de 50 e 70 do século vinte que, pela ampla representatividade no espólio artístico da Natália Correia, denotam de modo inequívoco o convívio, a amizade e aproximação da escritora açoriana com poetas e artistas ligados ao surrealismo português, o que acabou por refletir-se não só na produção pictórica, mas também na obra teatral que redigiu em parceria com Manuel de Lima, no panfleto de Delfim da Costa, assim como, na realização do “cadáver esquisito” (cadavre exquis no original francês) que praticou com Isabel Meyrelles, em 1958, em exposição.
No quarto núcleo da exposição, intitulado Paladina da Liberdade, procuramos evocar o embate da escritora e poetisa açoriana com a Censura. A coragem, insubmissão e oposição ao regime salazarista repercutiu-se negativamente no percurso literário de Natália Correia, cuja produção literária foi alvo de constante perseguição pelos mecanismos de controle do regime, como assevera o significativo número de obras poéticas e dramáticas da autora interditas de circular pela censura.
Comunicação, publicada em 1959, foi a primeira obra censurada e interdita de circular pelo Estado Novo (1933-1974). A partir desta data e continuando pelo decénio seguinte, os censores irão silenciar a criação literária da escritora açoriana. Comunicação (1959), Cântico do País Emerso (1961), O Homúnculo (1964), Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1965), O Vinho e a Lira (1966) e O Encoberto (1969), foram os livros de Natália Correia proibidos pela censura salazarista-marcelista.
Na impossibilidade de apresentar em exposição os livros propriamente ditos, damos a ler algumas passagens das obras censuradas e um excerto do poema A Defesa do Poeta, com o qual Natália Correia tencionava defender-se em tribunal no âmbito do processo-crime movido contra a autora pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, que só terminou em 1970.
Em complemento à palavra escrita, trazemos à contemplação uma obra de Cruzeiro Seixas, outra de Tereza Roza de Oliveira, bem como uma aguarela de Lima de Freitas que têm como denominador comum o facto da sua criação ser inspirada nas obras banidas pela censura, respetivamente, a Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, O Vinho e a Lira e O Encoberto.
Natália Correia, Arte e Artistas é a denominação escolhida para o quinto núcleo, no qual apresentamos uma ampla perspetiva do universo plástico representado na coleção da Natália Correia que permeia artistas de diferentes nacionalidades, o que é particularmente revelador do mapa de contactos que estabeleceu com os respetivos autores das obras que reuniu na sua residência, conseguindo granjear o respeito e a admiração de muitos, como tão bem elucidam as dedicatórias autógrafas.
Ao longo da atividade literária, Natália Correia recebeu dos artistas a imprescindível colaboração na tarefa de ilustrarem os seus livros, salientando-se, entre os principais ilustradores, Martins Correia, Francisco Relógio ou Lino Tudela com obra em exposição.
Reunimos neste núcleo uma seleção de textos de crítica de arte que Natália Correia escreveu sobre a obra de vários artistas para catálogos de exposições, a convite dos próprios autores. Nesta perspetiva, por esta via, a escritora açoriana empenhou-se na promoção e divulgação do talento e obra dos artistas coevos, com carreiras consagradas ou em menos conhecidos.
O penúltimo núcleo intitulado Combater a extinção das Causas, trata de evocar a trajetória política de Natália Correia desde os anos 40 até 1991. Da década de 1940, destacamos a atividade jornalística de Natália Correia produzida ao serviço do semanário Sol para o qual escreveu cerca de 43 artigos, nos quais a análise política internacional, a guerra nuclear e a questão feminina sobressaem entre as temáticas da sua eleição, o que denota uma consciência política e conhecimento do mundo, numa fase ainda muito jovem da sua vida. Damos a ver uma seleção de textos publicados na época e que remetem o visitante para a leitura.
Da profícua colaboração com a imprensa nacional, que manteve no período imediato ao 25 de abril de 1974, damos visibilidade a alguns dos artigos publicados, em particular, nas “Crónicas Vagantes”, onde defendeu com firmeza o seu posicionamento face aos acontecimentos periclitantes que marcaram a vida nacional.
Trazemos para este núcleo algumas obras de arte alusivas a este período, entre elas, uma cabeça de Francisco Sá Carneiro, da autoria de Isabel Meyrelles, o poster alusivo ao primeiro de maio de 1976, de José de Guimarães e quatro cartoons de SAM protagonizados pelo guarda Ricardo.
Finalizamos este núcleo expositivo com a exibição num ecrã de momentos da vida de Natália Correia que focam o seu percurso na vida política do país, exercido intensamente entre 1979 e 1991.
Prosseguindo o itinerário da exposição, já no último núcleo, sob o título Reconhecimento e Homenagens, damos a conhecer as condecorações e prémios que Natália Correia arrecadou entre 1977 e 1992, em reconhecimento pelo papel meritório na literatura e na cultura portuguesa.
Aqui apresentamos ainda uma parte da coleção de medalhas provenientes do espólio da escritora açoriana relacionadas com viagens, a celebração de efemérides ou alusivas a figuras notáveis da história de Portugal.
O circuito de Arte Sacra centra-se na antiga Igreja do Colégio, onde a exuberante fachada, a resplandecência do retábulo do altar-mor, bem como, a coleção de azulejos setecentistas assumem-se como um todo, num monumento ímpar de criação barroca. A este integra-se uma galeria com uma coleção diversificada onde se destacam peças quinhentistas, bem como, um valioso espólio de exemplares de temática religiosa.
O circuito apresenta as características arquitetónicas dos edifícios conventuais de outros tempos, a diversidade de espaços, as suas dinâmicas e funções, bem como, explora o modo de vida das Clarissas pertencentes ao ramo feminino da Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis.
O Circuito História Natural apresenta uma coleção de base naturalista que foi o alicerce para a fundação do Museu. O circuito distribuído por oito salas expõe a diversidade, o exótico e o saber, onde são abordadas diferentes áreas do conhecimento científico, com destaque para zoologia, geologia, mineralogia, botânica.
A exposição presta homenagem ao Príncipe Albert I do Mónaco, dando ênfase à relação do Príncipe com os Açores, abordando memórias afetivas e o seu legado na construção do conhecimento científico do Atlântico.
A parceria entre o Museu Carlos Machado e o Geoparque Açores visa reforçar as relações estreitas entre o museu e o território em que está inserido, contribuindo para a sua divulgação, proteção, valorização e desenvolvimento sustentado.
Com o aumento do turismo nos Açores, o museu evidencia-se como um meio essencial na divulgação de conhecimento, estabelecendo um primeiro contacto entre os visitantes e o território açoriano, e promovendo um turismo responsável assente na preservação e conservação dos recursos naturais disponíveis.
Aproveite esta oportunidade e visite a mostra expositiva O Geoparque no Museu, patente no Núcleo de Santo André.